sexta-feira, 29 de abril de 2011

OGUM

DIA: Terça-Feira

CORES: Verde ou Azul-escuro, Vermelho (algumas qualidades)

SÍMBOLOS: Bigorna, Faca, Pá, Enxada e outras ferramentas

ELEMENTOS: Terra (florestas e estradas) e Fogo

DOMÍNIOS: Guerra, Progresso, Conquista e Metalurgia

SAUDAÇÃO: Ògún ieé!!


Ogum (Ògún) é o temível guerreiro, violento e implacável, deus do ferro, da metalurgia e da tecnologia; protector do ferreiros, agricultores, caçadores, carpinteiros, escultores, sapateiros, talhantes, metalúrgicos, marceneiros, maquinistas, mecânicos, motoristas e de todos os profissionais que de alguma forma lidam com o ferro ou metais afins.

Orixá conquistador, Ogum fez-se respeitar em toda a África negra pelo seu carácter devastador. Foram muitos os reinos que se curvaram diante do poder militar de Ogum.

Entre os muitos Estados conquistados por Ogum estava a cidade de Iré, da qual se tornou senhor após matar o rei e substituí-lo pelo seu, próprio filho, regressando glorioso com o título de Oníìré, ou seja, Rei de Iré.

Não é por acaso, portanto, que nas orações dedicadas a Ogum o medo fica tão evidente e a piedade é um pedido constante, pois como diz uma das suas cantigas:


Ògún pá lélé pá
Ògún pá ojaré
Ògún pá, ejé pá
Akoró ojaré.

Ogum mata com violência
Ogum mata com razão
Ogum mata e destrói completamente.


Ogum é o filho mais velho de Odudua, o herói civilizador que fundou a cidade de Ifé. Quando Odudua esteve temporariamente cego, Ogum tornou-se seu regente em Ifé.

Ogum é um orixá importantíssimo em África e no Brasil. A sua origem, de acordo com a história, data de eras remotas. Ogum é o último imolé.

Os Igba Imolé eram os duzentos deuses da direita que foram destruídos por Olodumaré após terem agido mal. A Ogum, o único Igba Imolé que restou, coube conduzir os Irun Imole, os outros quatrocentos deuses da esquerda.

Foi Ogum quem ensinou aos homens como forjar o ferro e o aço. Ele tem um molho de sete instrumentos de ferro: alavanca, machado, pá, enxada, picareta, espada e faca, com as quais ajuda o homem a vencer a natureza.

Em todos os cantos da África negra Ogum é conhecido, pois soube conquistar cada espaço daquele continente com a sua bravura. Matou muita gente, mas matou a fome de muita gente, por isso antes de ser temido Ogum é amado.

Espada! Eis o braço de Ogum.

Características dos filhos de Ogum

Fisicamente, os filhos de Ogum são magros, mas com músculos e formas bem definidas. Compartilham com Exu o gosto pelas festas e conversas que não acabam e gostam de brigas. Se não fizerem a sua própria briga, compram a dos seus camaradas.

Sexualmente os filhos de Ogum são muito potentes; trocam constantemente de parceiros, pois possuem dificuldade de se fixar a uma pessoa ou lugar.

São do tipo que dispensa um confortável colchão de molas para dormir no chão; gostam de pisar a terra com os pés descalços. São pessoas batalhadoras, que não medem esforços para atingir os seus objectivos, são pessoas que mesmo contrariando a lógica lutam insistentemente e vencem.

Não se prendem à riqueza, ganham hoje, gastam amanhã. Gostam mesmo é do poder, gostam de comandar, são líderes natos. Essa necessidade de estar sempre à frente pode torná-los pessoas egoístas e desagradáveis, mas nem sempre.

Geralmente, os filhos de Ogum são pessoas alegres, que falam e riem alto para que todos se divirtam com suas histórias e que adoram compartilhar a sua felicidade.

domingo, 24 de abril de 2011

Toque de Exú.

Meus queridos...
Boa noite...

Reafirmo que faremos o toque de Exú no dia 22 de Maio, no santuário de Nazareth Paulista, sairemos de nossa casa às -08:00 da manhã.
Cada filho deverá levar 04 pratos de barro pequeno para fazer padê que será um de pinga, um de mel, azeite de dendê e outro de azeite doce.

Qualquer dúvida entre em contato conosco.

Uma Semana Maravilhosa e cheia de axé à todos nós.

Dicionário.

Claro, que dependendo da nação o sentido muda, mas basicamente é isso.
O certo a fazer é perguntar, ok?

Boa leitura!



- A -
Adó = comida feita com pipocas em grão e epô.
Abá = pessoa idosa, velho.
Abadá = blusão usado pelos homens africanos.
Abadó = milho de galinha.
Abará = nome de uma comida de origem africana.
Abébé = leque.
Abiodum = um dos Obá da direita de Xangô.
Adê = coroa.
Adetá = Oriki, nome sacerdotal.
Adun = comida de Oxun, milho pilado, azeite dendê e mel.
Afonjá = uma qualidade de Xangô.
Agboulá = nome de um Egun.
Agôgô = instrumento musical feito de ferro.
Ayabá = orixá feminino, senhora idosa.
Aiê = o mundo terrestre.
Airá = uma qualidade de Xangô.
Ajá/Adjá = campainha, sino.
Ajimudá = título sacerdotal.
Akôrô = uma das invocações e dos nomes de Ogun.
Aku = obrigação funerária.
Akukó/Akikó = galo.
Alá = espécie de pano branco.
Alabá = nome de um sacerdote do culto aos ancestrais.
Alabê = tocadores de atabaque.
Alafiá = felicidade; tudo de bom/confirmação.
Alafin = invocação de Xangô: nome do rei de Oió – Nigéria.
Alapini = nome sacerdotal do culto aos ancestrais.
Alasê/Yabasé = cozinheira.
Alé = noite.
Apaoká = uma jaqueira que tem esse nome no Axé Opô Afonjá.
Aramefá = conselho de Oxossi, composto de seis pessoas.
Aré = nome do primeiro Obá de Xangô.
Ararekolê = como vai?
Aressá = um dos Obá da esquerda de Xangô.
Ariaxé/Mayongá = banho na fonte no início das obrigações.
Arô = nome que se dá ao par de chifres de boi usado p/ chamar Oxossi.
Arôlu = nome de um dos Obá da direita de Xangô.
Assobá = sumo sacerdote do culto de Obaluaiyê.
Ati = e (conjunção).
Atori = vara pequena usada no culto de Oxalá.
Auá = nós.
Anon = eles.
Axedá = oriki, nome sacerdotal.
Axo = roupa.
Axogun = o encarregado dos sacrifícios.
A-ian-madê = como vão os meninos?
Adupé-lewô-olorun = graças a Deus por ter conservado minha vida e a minha saúde até hoje.
Alabaxé = o que põe e dispões de tudo.
Alayê = possuidor da vida.
Axé = força espiritual e também a palavra amém.
Ayê = céu.
Agô = licença.
Am-nó = o misericordioso.
Aba-laxé-di = cerimônia da feitura do santo.
Axexê = cerimônia fúnebre do sétimo dia.
Amadossi d’Orixá = cerimônia do dia do santo dar o nome.
Amacy no ori = cerimônia de lavar a cabeça com ervas sagradas.
Aiê = terra, festa do ano novo.
Ataré = pimenta da costa.
Amalá = comida feita de quiabo com ebá – angú de farinha.
Abará = bolo feito com feijão e frito no epô.
Akará = bolo feito com feijão fradinho, pimenta, camarão seco e frito no epô.
Akarajé = o mesmo que o Akará.
Afurá = bolo feito com arroz.
Ambrozó = feito de farinha de milho.
Abân = coco.
Ajé = sujeira.
Ajeun = comida.
Aguxó = espécie de legumes.

- B -
Babá = pai.
Babalaô = sacerdote, pai do ministério, aquele que faz consultas através do jogo.
Badá = título sacerdotal.
Baiani = orixá considerada mãe de Xangô.
Balé = chefe de comunidade.
Balué/Indó = Banheiro.
Bamboxê = sacerdote do culto de Xangô.
Bé = pular, pedir.
Beji = orixá dos gêmeos.
Bi = nascer, perguntar.
Bibá = está aceito.
Bibé = está seco.
Biuá = nasceu para nós.
Biyi = nasceu aqui, agora.
Bó = adorar
Bô = cobrir.
Bobô = todos.
Bodê = estar fora.
Bóri = oferenda à cabeça.
Borogun = Oriki, aquele que adora Ogun, saudação da família.

- D -
Dagan = título sacerdotal.
Dagô = dê licença.
Dê = chegar.
Deiyi = chegou agora.
Dodô = banana da terra frita.
Durô = esperar.

- E -
Ebá = pirão de farinha de mandioca ou inhame.
Ebé = sociedade.
Ebô = comida feita de milho branco, especial para Oxalá.
Ebó = sacrifício ou oferenda/limpesa.
Edun = nome próprio.
Egun = espírito ancestral.
Eie/Yrinlé = pombo.
Ejé = sangue.
Ejilaeborá = nome que se dá às doze qualidades de Xangô.
Ejionilé = nome de um Odu, jogo do orixá ifá.
Ekó = comida feita com milho branco ou de galinha; acaça.
Eku = preá.
Elebó = aquele que faz o sacrifício.
Eledá = orixá, guia, criador da pessoa.
Elemaxó = título de um sacerdote no culto de Oxalá.
Elerin = um dos Obá da esquerda de Xangô.
Elessé = que está aos pés, seguidor.
Êpa = amendoim.
Éran = carne.
Êrê = as esculturas do orixá beji (dos gêmeos).
Eru = carrego.
Erúkéré = emblema feito com cabelo de animais, usado por Oxossi, Oyá, Egun e pessoas importantes do culto.
Etu = conquém/galinha d´angola.
Euá = nome de um orixá.
Exu = nome de um importante orixá erroneamente associado ao diabo católico.

- F -
Fatumbi = título de um sacerdote de ifá.
Filá = gorro.
Fun = dar.
Funké = nome sarcedotal.

- G -
Gan = outro nome do agogô.

- I -
Iangui = nome do rei dos Exu.
Ianlé = as partes da comida que são oferecidas ao orixá.
Iansan = orixá patrono dos ventos, do rio Niger e dos relâmpagos.
Ibá = Assentamento de Orixá.
Ibi = Animal oferendado a Oxalá/Caramujo.
Ibiri = objeto de mão, usado pela orixá Nanã, feito em palha, couro e contas.
Ibó = lugar de adoração.
Ibô = mato.
Iemanjá = orixá patrono das águas correntes.
Ijexá = nome de uma região da Nigéria e de um toque para orixá Oxum, Oxála, etc...
Iká = modo de deitar-se das pessoas de orixá feminino, para saudação.
Iku = morte.
Ilê = casa.
Ilé = terra.
Inã = fogo.
Ipeté = inhame cozido, pisado, temperado com camarão seco, sal, azeite de dendê e cebola.
Irê = bondade.
Iuindejà = título sacerdotal.
Iuintonã = título sacerdotal.
Ixu = inhame.
Iyá = mãe.
Iyalaxé = mãe do axé do terreiro.
Iyalodé = um alto título, líder entre as mulheres.
Iyalorixá = Zeladora do culto, mãe do orixá.
Iyamasê = orixá da casa de Xangô.
Iyamorô = título de uma sacerdotisa do templo de Obaluaiyê.
Iyaô = nome dos iniciados antes de sete anos de iniciação.

- J -
Ji = despertar
Jinsi = título sacerdotal.
Jô = dançar.
Jobi = título sacerdotal.
Joé = aquele que possui título.

- K -
Kaiodé = nome de uma sacerdotisa de Oxossi.
Kan = um (número cardinal).
Kankanfô = um dos obá da direita de Xangô.
Kefá = sexto número ordinal.
Kejilá = décimo segundo (numero ordinal).
Kekerê = pequeno.
Ketà = terceiro (nº. ordinal).
Kolabá = nome de uma sacerdotisa do culto de Xangô.
Kopanijê = um toque especial do orixá Obaluaiyê.
Koxerê = que seja feliz, e que tudo de bom aconteça.
Labá = bolsa de couro usada no culto de Xangô.

- L -
Lara = no corpo.
Lê = forte.
Lessé = aos pés (lessé orixá – seguidores do orixá).
Ló = ir.
Lodê = lado de fora; lá fora.
Lodô = no rio.
Logunedé = nome de um orixá.
Loná = no caminho.

- M -
Mariô = tala do olho do dendezeiro desfiada.
Modê = cheguei.
Mogbá = título de um sacerdote do culto de Xangô.
Mojubá = apresentando meu humilde respeito.

- N -
Nanã = nome da orixá, mãe de Obaluaiyê.
Nilê = na casa.

- O -
Obá = rei , ministro de xangô.
Obaluaiyê = nome do orixá patrono das doenças epidêmicas.
Obarayi = nome de uma sacerdotisa filha de Xangô.
Obatalá = uma qualidade de Oxalá.
Obatelá = nome de um dos obá da direita de Xangô.
Obaxorun = nome de um dos obá da esquerda de Xangô.
Obi = fruto africano utilizado nos rítuais.
Obitikô = Xangô.
Oburô = alto título da hierarquia do culto.
Odê = fora, rua.
Odé = caçador; nome que também é dado ao orixá Oxossi.
Odi = nome de um odu, jogo de ifá.
Odô = rio.
Odófin = nome de um dos obá da direita de Xango.
Odu = a posição em que caem os búzios ou o opelé ifá quando consultados.
Oduduá = orixá criador da terra.
Ofun = nome de um odu.
Ogã ou Ogan = nome dos homens escolhidos p/ participar do terreiro.
Ogodô = uma qualidade de Xangô.
Oguê = instrumento de percussão feito de chifres de boi.
Ogun = orixá patrono do ferro, do desbravamento e da guerra.
Oin = mel.
Oiakebê = nome de uma sacerdotisa de Iansan.
Ojá = ornamento feito com tira de pano.
Ojé = sacerdote do culto de Egun ou Egungun.
Ojó = dia da semana.
Oju = rosto.
Ojubó = lugar de adoração.
Oké = título sacerdotal.
Okê-Arô = saudação para Oxossi.
Okó = marido.
Okô = roça, fazenda.
Okunlé/Ajoko = ajoelhar-se.
Olelé = bolo feito com feijão fradinho; abará.
Olodê = o senhor da rua, do espaço, de fora.
Olorôgun = festa de encerramento do terreiro antes da quaresma.
Olorum = entidade suprema, força maior, que está acima de todos os orixás.
Olouô = homem rico; senhor do dinheiro.
Oluá = senhor.
Oluayê = senhor do mundo
Olubajé = cerimônia onde Obaluaiyê reparte sua comida com seus filhos e seguidores.
Olukotun = o nome do ancestral mais velho, cabe? ¦ça do culto de Egun.
Oluô = o olhador, o que joga os búzios e o opelé ifá.
Omi = água.
Omo = filho, criança.
Omolu = um dos nomme de Obaluaiyê.
Omõrixá = filho de orixá.
Onã = caminho.
Onãsokun = um dos obá da esquerda de Xangô.
Onìkòyi = um dos obá da esquerda de Xangô.
Onilé = dona da terra.
Onilê = dona da casa.
Opaxorô = emblema de Oxalá.
Opô = pilastra.
Ori = cabeça.
Orô = preceito, costume tradicional.
Orobô = fruta africana.
Orukó = nome próprio.
Ossãin = orixá patrono das ervas (folhas).
Osé = semana; rito semanal/limpesa de Ibá.
Ossi = esquerda, ou a terceira pessoa de um cargo.
Ossá = nome de um odu ifá
Otin = aguardente.
Otun = direita, ou segunda pessoa de um cargo.
Ouô = dinheiro.
Oxaguiã = uma qualidade de Oxalá relacionado com o inhame novo.
Oxalá = o mais respeitado, o pai de todos orixás.
Oxalufã = uma qualidade de Oxalá; Oxalá velho.
Oxé = sabão da costa africana.
Oxossi = orixá patrono da floresta e da caça.
Oxoxö = milho cozido com pedaços de coco.
Oxum = uma das orixá das águas.
Oxumarê = nome do orixá relacionado ao arco-íris.

- P -
Pá = matar.
Padê = Prato destinado a Exú.
Pê = chamar.
Peji = altar.
Pelebé = pato.
Pepelê = banco.
Peté = Comida exclusiva de Oxun.

- S -
Sarapebé = mensageiro.
Si = para.
Sòrò = falar.
Sun = dormir.

- T -
Tanã/Inã = vela, lâmpada, fifo.
Teni = nome sacerdotal.
Tô = suficiente, basta/cala-se.

- U -
Uá = vir.
Umbó = está vindo, está chegando.
Unjé = comida.
Uô = olhar, reparar.

- X -
Xaorô = pequenos guizos
Xarará = emblema do orixá Obaluaiyê.
Xê = fazer.
Xekeré = cabaça revestida com contas de Santa Maria ou búzios.
Xerê = chocalho especial para saudar Xangô, em cabaça com cabo ou em cobre.
Xirê = festa, brincadeira.
Xokotô = calças.
Xorô = fazer ritual.

Seguem agora algumas palavras e expressões, derivadas do yoruba e de outras influências linguísticas, igualmente de origem africana, mas provenientes de outras nações e que já sofreram entretanto alteração e adaptação fonética por força do português. No entanto, estas palavras e expressões são utilizadas correntemente no dia a dia das casas de santo. Isto para explicar porque algumas letras que não se encontram acima, se encontram abaixo, pois letras como o C não fazem parte da língua Yoruba.

A
Abadá – Blusão usado pelos homens africanos.
Abadô – Milho torrado
Abebé – Leque.
Abassa – Salão onde se realizam as cerimônias públicas do camdomblé, barracão.
Adé – Coroa.
Adie – Galinha.
Adupé = Dupé – Obrigado.
Afonja – É uma qualidade de Xangô.
Agbô – Carneiro.
Aguntam – Ovelha.
Ajeum – Comida.
Alabá – Título do sacerdote supremo no culto aos eguns.
Aledá – Porco.
Alaruê – Briga.
Alubaça – Cebola.
Axó – Roupa.
Axogum – Auxiliar do terreiro, geralmente importante na hierarquia da casa, encarregado de sacrificar os animais que fazem parte das oferendas aos orixás.

B
Baba – Pai.
Babaojê – Sacerdote do culto dos eguns; Ojé é o nome de todos iniciados no culto aos eguns.
Babassá – Irmão gêmeo.
Balê – Casa dos mortos.
Balé – Chefe de comunidade.
Beji – Orixá dos gêmeos.
Biyi – Nasceu aqui, agora.
Bô – Adorar.

C
Conguém – Galinha da Angola.
Cambaú – Cama.
Cafofo – Túmulo.
Caô – É um tipo de Xangô.
Catular – Cortar o cabelo com tesoura, preparando para o ritual de raspagem para iniciação no Candomblé.
Cutilagem – É o corte que se faz na cabeça do iniciado; é realizado para abrir o canal energético principal que o ser humano tem no corpo, exatamente no topo da cabeça,(no Ori), por onde vibra o axé dos Orixás para o interior de uma pessoa.

D
Dã – Orixá das correntes oriundas do Daomé.
Dara – Bom, agradável.
Dide – Levantar.
Dagô – Dê licança.
Dê – Chegar.
Dudu – Preto.

E
Edu – Carvão.
Eiyele – Pombo.
Elebó – Aquele que está de obrigação.
Eledá – Orixá guia.
Erú – Carrego; carga.
Equê – Mentira.
Esan – Vingança.
Emi – Vida
Enu – Boca
Eran – Carne
Ejó – Cobra.
Egun – Alma, espírito.
Epô – Azeite
Epô-pupa – Azeite de dendê
Eró – Segredo

F
Fá – Raspar
Fadaka – Prata
Filá – Gorro
Funfun – Branco
Fenukó – Beijar
Ferese – janela
Fo – Lavar
Fún – Dar
Farí – Raspar cabeça.

G
Ga – Alta, grande
Ge – Cortar
Gari – Farinha
Gururu – Pipoca

I
Ia – Mãe
Ia ia – Avó
Ialorixá – Mãe de santo (sacerdote de orixá)
Iban – Queixo
Idí – Ânus, nádega
Ibô – Mato
Ibó – Lugar de adoração
Ilê – Casa
Ibá – Colar, cheio de objetos ritualístico
Inã – Fogo
Ijexá – Nome de uma região da Nigéria e de um toque para os Orixás Oxum, Ogum e Oxala.
Ipadê – Reunião
Ida – Espada
Ida-oba – Espada do Rei
Ideruba – Fantasma
Idodo – Umbigo
Ifun – Intestino
Idunnu – Felicidade
Igi – Árvore
Ijo – Dança
Iku – Morte
Iyabasé – Cozinheira
Iyalaxé – Mãe do axé do terreiro

J
Jajá – Esteira
Jalè – Roubar
Ji – Acordar, roubar
Jeun – Comer
Jimi – Acorda-me
Joko – Sentar
Jade – Sair
Jagunjagun – Guerreiro, Soldado

K
Kà – Ler, contar
Kan – Azedo
Kekerê – Pequeno
Koró – Fel, amargo
Kòtò – Buraco
Kuru – Longe
Ko Dara – Ruim
Ku – Morrer
Kosi – Nada

L
Là – Abrir
Lê – Forte
Lile – Feroz, violento
Liló – Partir
Larin – Moderado
Ló – Ir
Lailai – Para sempre
Lowo – Rico
Lu – Furar
Lodê – Lado de fora, lá fora
Lodo – No rio
Lona – No caminho

M
Malu – Boi
Meje – Sete
Mun – Beber
Muló – Levar embora
Mojubá – Apresentando meu humilde respeito
Mo – Eu
Mí – Viver
Mejeji – Duas vezes
Mandinga – Feitiço
Maleme – Pedido de perdão
Mi-amiami – Farofa oferecida para exu
Modê – Cheguei

N
Ná – Gastar
Ní – Ter
Níbi – No lugar
Nítorí – Por que
Nu – Sumir
Najé – Prato feito com argila
Nipa – Sobre
Nipon – Grosso.

O
Obé – Faca
Obé fari – Navalha
Oberó – Alguidar
Obirim – Mulher, feminino
Ojiji – Sombra
Oju ona – Olho da rua, ( caminho )
Okó – Pênis
Omi – Água
Omi Dudu – Café preto
Otí – Álcool
Owo – Dinheiro
Oyin – Mel
Obá – Rei
Odé – Caçador
Orun – Céu
Ofá – Arco e flecha
Olorum – Deus
Ota e Okuta – Pedra
Odo – Rio
Obo – Vagina
Otin nibé – Cerveja
Otin Dudu – Vinho tinto
Otin fum-fum – Aguardente
Odê – Fora, rua
Olodê – Senhor da rua
Omo – filho, criança.
Ongé – Comida

P
Pá – Matar
Pada – Voltar
Paeja – Pescar
Peji – Altar
Pelebi – Pato
Pupa – Vermelho
Paki – Sala
Patapá – Burro
Pepelê – Banco

R
Rà – Comprar
Rere – Muito bem
Re – Ir
Rìn – Trabalhar
Rí – Ver
Ronu – Pensar
Roboto – Redondo

S
Sanro – Gordo
Sare – Rápido, correr
Sínun – Dentro
Sise – Trabalho
Sun – Dormir
Sarapebé – Mensageiro
Sòrò – Falar
Si Ori – Abrir a Cabeça

T
Tata – Gafanhoto
Tèmi – Meu, minha
Toto – Atenção
Titun – Novo
Tóbi – Grande, maior
Tàbá – Tabaco, fumo
Tete – Aplicado
Tanã – Vela, lâmpada
Tún – Retorno
Taya – Esposa
Tutu – Frio, gelado

W
Wa – Nosso
Wèrè – Louco
Wúrà – Ouro
Wu – Desenterrar
Wun ni – Gostar
Wakati – Hora
Wara – Leite

X
Xaorô – Tornozeleira de palha da costa usada durante o recolhimento para o processo de iniciação.
Xarará – Instrumento simbólico do Orixá Obaluaiyê
Xê – Fazer
Xirê – Festa, brincadeira

Y
Yàgó – Licença
Yan – Torrar
Yaro – Ficar aleijado
Yiyan – Assado
Yonrin – Areia
Yama – Oeste
Yara-ypejo – Sala

sexta-feira, 15 de abril de 2011

História: escola de iniciação das meninas de venda

Não inventem moda hein, é só para ler...
Vejam o que é a cultura.
Meus comentários em vermelho.
Boa leitura!

Estágio I : Muhulu ou muhulo; para -hula= para crescer)

Uma noviça ganha uma companheira de ritual, ela passa o tempo todo isolada no quarto do chefe ou do líder. Uma nobre permanece no privativo do líder (Cabana Privada), enquanto que uma menina do povo fica no tshivhambo,(Cabana do Conselho) em condições mais ou menos privativo. Não pode falar com nenhum homem exceto seu pai e seus irmãos, até que termine o segundo estágio (veja abaixo). Todos seus cabelos do corpo são raspados, e não é permitido o uso de ornamentos.

Noviças na Cabana do Conselho onde aprendem o milayo.
Confinadas na cabana para o Vhusha da Comunidade. Observe uma noviça recente, ainda sem o colar (KELÊ=MIGUI (???).. (Esta é a descrição de um quadro ilustrativo que tem no original).

Milayo, significa literalmente, “leis” ou “ instruções”, mas no contexto da iniciação pode ser traduzido como “a sabedoria”, porque aprendem primeiramente uma série de fórmulas, em que, a determinados objetos familiares são dados nomes especiais, e as regras de conduta, a etiqueta social, na coreografia dos rituais têm um significado simbólico como se fossem objetos. Durante o aprendizado do milayo, as sentenças, as frases, ou mesmo as únicas palavras do instrutor são pontuadas geralmente por um refrão falado por um outro oficial ou por uma noviça sênior, tal como “Fhira' ri ye, Khomba!” literalmente: (passe sobre que nós podemos ir, Khomba!). Estas interjeições são indicados por dois pontos ou por pontos cheios.

Muitos milayo são estruturadas em uma chamada em forma de resposta, em que a resposta foi recitada pelos novatos. No primeiro dia do Vhusha das nobres, a cada noviça é atribuído uma companheira de ritual; é despida e surrada 28 vezes pela mulher responsável (Aqui vc´s escolhem, ekedji do Ogun ou da Yemonjá) , quatorze cipoadas em cada coxa. (ENTENDERAM PORQUÊ ANTIGAMENTE SE BATIA EM MUZENZA?) Se a noviça for fraca ou doente, ou não desejar ser surrada duramente, pode pagar uma multa e receber somente oito cipoadas.


Por oito dias permanece despida e coberta somente com um cobertor. Pode ser pinchada, atormentada, e obrigada a trabalhar, pelas meninas “sênior”= mais velhas. É dada instruções especiais pelas velhas senhoras, que as atendem somente na primeira e última noite. Pelo resto do tempo, a noviça e as novatas do segundo estágio são supervisionados pelas meninas “sênior”=mais velhas, que comem também com elas duas vezes ao dia no quarto (bakice, ronkó). A papa ou mingau mole (feito de farinha de milho branco, perguntem a dofonitinha o que é isso...rsrsrsr) e uma iguaria feita com amendoim e flores da abóbora (dovhi vhuluvha) que são fornecidos pela mãe da noviça; o mingau deve ser cozinhado numa panela de ferro. Gente! É o mingau de milho branco!!!, reforçado com amendoim (já que elas vão casar logo...) e flores para temperar!!!)

No Vhusha dos nobres, como no Vhusha do povo, o alimento é providenciado pelas noviças, cozinhado pelas meninas do segundo estágio, e apreciado principalmente por aqueles em seu terceiro estágio e além. No nono dia, a noviça é acompanhada à sua casa, onde sua família deve oferecer o mingau para todas as meninas. Cozinham o mingau mole, que é chamado vhuteteha :deve ser cozido com farinha fina de milho (vhukhopfu) e água, e não deve conter nenhuma refeição pesada (vhuse). (Comida de Muzenza!!!!) Este mingau é servido ao menos em oito pratos de madeira (ndilo), das quais, sete são para as “seniors” (Kota, Makota, Mametu) e um para o noviço, que deve comer sozinha a menos que haja outra do mesmo grau dela. Em quatro dos pratos o mingau é servido em tiras, ao comprido (mikonde), e nos outros quatro é servido em formas redondas (mabumbulu). A noviça come somente o último.

A carne é fornecida pelas noviças, mas cozida por meninas em seu segundo estágio. Cada noviça deve dar duas aves colocando, junto com ao menos dois ovos que foram colocados por cada ave (e não por outras aves). Se não puder levar as aves e os ovos, deve pagar uma taxa, enquanto isto é atendido as noviças sênior pensam o que vão fazer.

A moela e um pé de cada ave são dados à noviça mais velha da casa. As meninas noviças do segundo estágio comem os pés, a cabeça, o fígado e as entranhas da ave; quando as noviças sênior “comem”, podem comer o sangue e mais tanta carne até estufar a barriga. As tripas não são dadas às noviças, mas são jogados para os porcos. Além da carne, os grãos secos de feijão, amendoim ou milho devem ser fornecidos, ou então um pagamento equivalente.

Depois, a família da noviça deve fornecer duas garrafas de banha de porco que é passada então no corpo da noviça, junto com o pó vermelho. A noviça passa os oito dias seguintes em repouso aprontando o seu enxoval para casar (tshiluvhelo) , com um faixa de grãos (tshifunga) , os cordões de algodão (mifhunga) que penduram na cintura, e o thahu amarrada atrás, representando um bebê.

Têm também o tonsure “da gravidez” (tschivhundu).Durante o ritual da noviça, o thahu permanece com ela o tempo todo. Quando a noviça remove o avental e o thahu, seus pais pagam ao Sacerdote uma taxa.

Cada estágio do Vhusha do povo continua por seis, em vez de oito dias e oito noites. As senhoras velhas estão laborando no primeiro e no último dia, que é chamado tshigogovhalo, mas nos outros dias as noviças estão a mercê das meninas sênior. Apesar de que, os nobres podem atender ao Vhusha do povo uma vez que passaram seu próprio muhulu, meninas do povo não podem atender a qualquer parte do Vhusha dos nobres.

Quando se graduam do muhulu, as meninas do povo usam uma saia enfeitada (tshirrivha) que deva ser da pele de cabra, (o bicho de 4 pés sacrificado durante o orô) mas são às vezes da pele dos carneiros. (Depende do(a) dono(a) do mutuê, como é para nós do Candomblé... Após a reclusão inicial em suas casas, vão com um presente de feixe de lenha para entregar às suas Mães do ritual, que no começo do muhulu (queda do mucunã) cortaram o seu cabelo no estilo chamado thotshi (tosa, catular) no estilo tshivhundu.

História e Cultura: Angola - nasce uma nação, sua origem e identidade

O surgimento do primeiro nativismo angolano

As primeiras idéias, a primeira consciência de rebeldia de nativismo aparece de certa maneira captada por estes contatos por estas inteligências em contato com o Brasil, quando se fala em nativismo esta palavra não aparece na Europa , aparece exatamente influenciada por uma corrente nativista brasileira.

Este conceito aparece em função primeiro no Brasil, e aparece no século XIX sobretudo a partir da Segunda metade surge um nativismo atuante mesmo quer dizer os primeiros jornais, os primeiros intelectuais, os primeiros africanos que criam jornais e ao mesmo tempo que escrevem como Cordeiro da Mata que escrevem, que criam gramáticas, criam dicionários de línguas nacionais sobretudo o kimbundu porque evidentemente era a área cultural o kimbundu em Luanda e que começam a pensar e a reivindicar, estes jornais são no primeiro momento jornais reivindicativos, a consciência tinha um certo limite, porque eles de certa maneira encontravam como obstáculo ainda o não conhecimento de uma Angola como um todo, era local e a reivindicação era local, a reivindicação da exploração, do racismo, das prioridades que davam aos colonos e não aos africanos, aos naturais, aos filhos da terras, começa-se haver a primeira autodenominação de naturais, de filhos da terra e depois de angolense - o primeiro jornal, (o jornal que existe hoje de imprensa alternativa Angolense é uma copia do titulo evidentemente do jornal do final do século XIX, começo deste século " O Angolense" , a historia não se repete não tem nada haver uma coisa com a outra mas o Américo Gonçalves tem todo mérito de não fazer esquecer este jornalismo nativista , o primeiro que houve ao dar novamente o nome de Angolense um jornal atual ).


Então existe esta primeira consciência que não é uma consciência nacional ainda, mas é uma consciência nativa reivindicativa em relação aquilo que estava a suceder, neste final de século e começo deste século havia por acaso toda uma consciência, ainda é final de monarquia na Europa, em Portugal a potência colonizadora de um espírito de certa maneira liberal que permitia a legalização destes pequenos jornais existentes e a imprensa nativista em Angola foi representativa e ela deve ser recuperada historicamente para mostrar como ela foi atuante, eram pequenos jornais que as vezes tinha duração de meia dúzia de números e caiam por ai adiante, o Eco de Angola, O Negro e outros é interessante dizer que estes jornais não existiam só em Angola, em Moçambique, etc., mas também em Lisboa devido ao contingente de emigração muitas vezes nesta época a Lisboa no final do século passado, então também houveram jornais nativistas em Portugal ai não particularmente de Angola, Moçambique mas ao contrário mas reunindo as diversas colônias, eram jornais digamos de um movimento anti-colonial ou pelo menos reivindicativo ao nível das coloniais, estas união de Palops tem uma origem lá no século passado.

A primeira reivindicação que se opunha ao colonizador era questão racial, mas depois coloca-se a questão de princípios influenciadas esta imprensa que vemos recorrendo a leitura são reivindicativas de um espírito de um socialismo utópico do final do século passado, universalistas e as vezes chegam a dizer que não " nós não queremos deixar de ser portugueses" chega-se a afirmar isto para se mostrar o espírito meramente reivindicativo mas não podemos admitir é que agente seja explorada, que seja discriminada racialmente, que seja explorados economicamente porque esta é a nossa terra ao mesmo tempo se reconhece os valores agora que tinham sido negados e continuaram a ser negados, os valores da terra, do ponto de vista lingüístico então é muito interessante porque estes jornais muitas vezes são bilíngüe tinham artigos em português todo rebuscado e depois o artigo em kimbundu.

Depois com a queda da monarquia e o começo da república ainda impera esta possibilidade de um espírito liberal durante algum tempo, mas logo com as mudanças que conduzem ao autoritarismo em Portugal começa a ser fechado nas décadas de 30/40 e começa a haver uma impossibilidade destas reivindicações e ao mesmo tempo também vai eclodir a 2º guerra mundial e ninguém esta separado e ninguém vive isolado dos acontecimentos, a segunda guerra mundial foi o momento de tomada de consciência de dizer porque que os europeus lutam, porque que nós somos colonizados, o que é ser nação, o que a nacionalidade e este questionamento ao mesmo tempo ligado a um autoritarismo cada vez maior e crescente nas coloniais e em Angola.

São os primeiros estudantes que vão fazer cursos em Portugal na década de 40 final da Segunda guerra mundial é o movimento que se espalha por toda África, os movimentos pan-africanistas, os movimentos culturais pois a primeira reivindicação é cultural , é o andamento para as questões políticas, aquela que vai construir esta consciência de pertencimento e de diferença em relação ao outro, em Angola podia se saber todos os nomes dos rios de Portugal, todas as linhas férreas que eram obrigadas a estudar em geografia e ninguém conhecia o monte mais alto de Angola ou do rio mais extenso.

domingo, 10 de abril de 2011

Angola X Ketu (algumas diferenças)

Para tentarmos apontar qualquer diferença entre essas nações é necessário retrocedermos um pouquinho mais no tempo, a fim de que possamos encontrar o ponto considerado ideal - o marco - capaz de permitir-nos o estabelecimento de um histórico destinado à identificação de tais diferenças, vez que, com o passar dos tempos as misturas de ritos e costumes foram naturalmente acontecendo. Essa mistura - hoje comumente conhecida por milonga - chegou a tal ponto que obrigou as Casas mais tradicionais a se fecharem, ocultando ainda mais os seus fundamentos. Outras, menos presas, ao tradicionalismo, acabaram assimilando terminologias próprias dos iorubanos que chegaram ao Brasil no período de declínio da escravidão.

A história comprova que o movimento escravagista trouxe ao Brasil, primeiramente, os povos bantu originários de Angola e do Congo. Estes falavam inúmeros dialetos, mas os que predominavam entre eles eram o Kimbundu - Angola e o Kikongo - Congo. Convém destacar que, por serem países fronteiriços, o uso desses dialetos já era comum para ambos, na própria região, passando a ser ainda mais misturado aqui no Brasil em razão da convivência durante as suas permanências nas senzalas.

Segundo Barcellos, em sua obra sobre As cantigas de Angola, 1998:19, a sobrevivência dos costumes e rituais religiosos só foi possível graças a um enorme esforço de seu povo, que, mesmo humilhado e vilipendiado, conseguiu levantar a notória bandeira branca de KITEMBU - patriarca dos angolas ou angoleiros - mantendo viva a nação para que nós, Munzangala Kitembu (filhos do tempo), possamos preservá-la.

Mas, ainda assim, o processamento de qualquer comparação entre as nações angola e ketu é, no mínimo, temeroso. Não há dúvidas sobre a diferença de tradições. De comum, diz Barcellos, "ambas têm apenas a crença e o ritmo".

Vejamos alguns pontos que são substanciais e ao mesmo tempo incomuns entre ambas:
1) é tradição dos povos ketu tocar os atabaques usando varetas denominadas akidavi ou lakdavi. Na nação angola isto é praticado com as próprias mãos;
2) na nação ketu é comum desenvolver o xirê dos orixás, cantando numa ordem pre-determinada. Os angoleiros, por sua vez, mantém uma ordem, muito embora não tenha que ser necessariamente a mesma utilizada pelos ketu, e o toque executado é o Jamberessu - ritual específico de invocação dos Minkisi.
3) o ritual fúnebre iorubano é conhecido por axexê, mas, tanto quanto no angola, é secreto e nada tem em igualdade com o Ntambi dos angolanos.
Mas, sem sombra de dúvidas, são extremamente coesos em seus propósitos. Diz, Barcellos: "são rituais muito diferenciados, profundamente sérios e de raríssima beleza plástica, embora sejam lúgubres, pois a morte, muito temida pelos povos animistas, ou seja, por aqueles que crêem que a natureza tenha vida e vontade próprias, é encarada como a passagem para um mundo mais evoluído, ou seja, o mundo dos Minkisi ou Orixás".
4) as cores dos Orixás e Minkisi guardam grandes semelhanças, posto que ambos atuam sobre as forças da natureza, o que equivale dizer que esta é essencialmente a responsável por tal similaridade.

Mas, alguns autores e dentre estes cito o próprio Barcellos, afirmam que a verdadeira diferença talvez esteja na questão étnica e na da origem religiosa. O império iorubano foi criado por Oduduwa, na Nigéria, fronteira com o Daomé, hoje República do Benin e aos poucos foi incorporando determinadas divindades, como por exemplo, a do orixá Nanã.

Outro aspecto notadamente próprio aos iorubanos é a vinculação do culto ao orixá a uma determinada região. Exemplo, Oxogbó/Oxum; Oyó/Xangô; Irê e Hondo/Ogum; Irá/Iansã, etc.

Ao contrário dos iorubanos, os bantu cultuavam seus Minkisi de acordo com a ocasião e seus reinos, impérios e países foram fundados ao longo do trecho compreendendo norte/nordeste até o sul da África. Os bantu foram os verdadeiros fundadores do Congo, Angola e Namíbia, entre outros.

Portanto, mesmo diante da visível e discutível tendência à unificação desses cultos no Brasil, quanto mais se estuda e busca o resgate das verdadeiras raízes, chega-se à conclusão de que todos guardam fundamentos, tradições, sabedoria, próprios dos seus povos e que, certamente, muito se perdeu ou foi mantido em segredo absoluto ao longo dos tempos.


Asé.

Divindades.

As divindades dividem-se em: soberanas e intermediárias. E as intermediárias em: superiores, auxiliares e serviçais. As soberanas são: Zambi e Calungangombe. E as intermediárias classificam-se em: miondonas, calundus, quituas e quiandas.

SOBERANAS

Zambi é o Deus das alturas promotor da existência, autor do bem e do mal, o Deus propriamente dito. Deriva de kuzamba: presentear (a vida, o mundo).
Calungangombe é o Deus das profundezas do globo – o Além-Túmulo dos aborígenes – o juiz e chefe dos mortos. Deriva de kalunga (morte) + ngombe (ruminante da família dos bovídeos). Logo, um ente voraz de vidas.

INTERMEDIÁRIAS
Miondonas são espíritos tutelares. Nascem conosco e herdam-se principalmente do ramo paterno. Defendem-nos do mal. Deriva de kukondona: limpar (do mal).

Calundus são espíritos justiceiros e medicantes. Herdam-se principalmente do ramo materno. Representam almas de pessoas que viveram em épocas remotas. Distingue-se o diculo – ancião e o diculundundo – ancião de idade mais avançada. Deriva de kulundula: herdar.

Malungas são espíritos simpatizantes. As entidades que, na vida terrena, constituíram indivíduos da raça branca, assumem, por influência do catolicismo, a qualificação particular “santo”.  Deriva de M’akuá-lunga: relativos aos do Além.

Quitutas são gênios. Vivem em toda a parte, como nas matas, rios, cacimbas, montes, rochas. Embora raramente, podem-se mostrar em forma de bichos, denunciando bons ou maus presságios. Deriva de kututa: transportar (em si).

Quiandas são as sereias. Vivem na água, principalmente no mar, podendo mostrar-se sob qualquer aspecto – pessoas, peixe, coisa. Suas aparições, tal qual aos quitutas, representam bons ou maus indícios. Deriva de kuenda: andar (indo com alguém).
Complementando as definições de espírito, vamos agora apresentar as de alma. Segundo o autor, espírito é uma alma evoluída, ou através de possessões seculares, ou através de sucessivas transmigrações – argumento este verificado no conto Quimalauezo, inserto no I vol. De Missosso, não como elemento de evolução, mas como um retorno à vida.

Muenho é a vida ou alma de vivente. Em sonho, desprende-se da matéria, vagueia pelo espaço. Deriva de kumuena: ver in loco.

Dele ou Zumbi é alma de pessoa falecida recentemente, num período não secular. O aportuguesamento de zumbi é canzubi. E de dele, proveio a expressão mundele – indivíduo de raça branca. Pela decomposição – mukuá-ndele – apura-se a comparação: possuidor de alma, semelhante a alma. Os termos derivam, respectivamente, de kuzumbika e kuendela, ambos os verbos significando perseguir (a mandado de feiticeiro). As almas e espíritos são designados pelos termos: akuá-Lunga (os do Além) e akuá-moxi-ia-mavu (os de debaixo da terra).

Quitulo é alma penada. Deriva de kutula: amargar.

Muculo é a alma de pessoa acabada de falecer, ou mesmo falecida há poucos anos, a qual actua noutrem, ou par lhe revelar um segredo, ou para lhe legar o seu saber e a sua corte de espíritos. Deriva de mukuá-ukulu: indivíduo do tempo antigo; que viveu noutro tempo.

Divindades: Religião e Deuses

TCHOKES – Hierarquia religiosa
N'Zambi - Criador do Mundo. Samuang.
Feminino Namuang, Masculino Tchirhongo – Personagem masculino, austero, representa força e mando. Primeiro casal da terra, representados por dois troncos secos e estreitos, com as esculturas de um casal nas extremidades, ficam erguidos perto das cubatas e isolados.
Kuba-Wavula –Divindade má, mata, queima e destrói em dias de chuva - Wavula – no momento do raio – Kuba. É representado por um manipanço disforme, com dentes pontudos e irregulares simulando uma boca.
Kakuka - Filho de Nzambi e Samuang, tem poderes de premonição. É representado por um boneco e uma tábua, na qual se esfrega o boneco, até este dar as respostas pretendidas.
Tuhemba(massuko) – Divindade feminina que ajuda as sementeiras. Primeira filha de Samuang e Tchirhongo. É representada por um tronco estreito e seco, com uma figura feminina esculpida na ponta. Esse tronco fica espetado do lado de uma paliçada pequena, que tem em cima figuras representando a família e descendentes.
Katoto - Personagem grotesco, ridículo e cômico.
Katwa - Figura amedrontadora, de feitiço muito poderoso, protege quem o agrada e prejudica os que o subestimam.
Mwana-Pwo - Totalmente feminina nos trejeitos e enfeites, é uma divindade protetora e alegre.
Deuses menores ou de segunda ordem
São todos filhos adotivos de Luzunzi.
Wela-ke-Luzunzi - É a entidade que protege os pobres e os tristes.
Kinkinda e Kilili - São as entidades protetoras dos grãos de milho, da mandioca e das farinhas que deles resultam.
Kimpunkulo e Kinzunda - São as entidades protetoras da agricultura.
M'Baki, Lukola-Limpangi, Mundala-Mipangi e Luki-a-Limpangi - São as entidades que protegem os riachos, onde habitam, junto com toda a fauna e flora desses lugares.
Mitologia do Clã Bakongo
NZambi - É o ente supremo e bom, que tem o poder criador. Chamam-lhe também de Tata ou Tata-Itu – Pai ou Pai Nosso.
Bakisi ou NKisi - São seres sobre-humanos que protegem o homem.
Bakasi Basi - são os espíritos da terra;
NKisi NSi - são os espíritos do poder. Usam outros espíritos nas suas tarefas, e são de uma maneira geral bons, mas se for necessário, podem também fazer o mal.
Zindundu - São espíritos de albinos, monstruosos e incapazes de procriar. São temidos por todos os espíritos do mal, muito embora não esteja muito bem definido que tipo de poder eles têm, nem como o exercem. Os albinos, em vida também são temidos a ponto de, nos mercados os deixarem pegar o que quiserem, sem terem que pagar por nada.
Basima - São os espíritos dos gêmeos; são bons e respeitados. Em vida os gêmeos também são respeitados como seres especiais; deles sempre se espera atitudes boas e generosas, e se por um acaso tomam uma atitude que não o seja, considera-se que houve forte razão para isso, ou que a atitude não foi bem interpretada.
Kilombo - São os espíritos que entram nos cérebros, os interpretam e influenciam.
Vimbu - São espíritos maus, de pessoas que morreram inchadas, com chagas, doenças de pele e irritações.

Kabila

Kabila — De Kubila: pastorear. - Pastor de Mutacalombo ou de Mutanjínji.
Quando um caçador não consegue abater uma peça de caça, se, por intermédio dum xinguilador, lhe suplica a sua intervenção, ele proporciona-lhe alguns animais que furta ao amo, difícil de ceder a tais pedidos.
Após a caçada, o caçador, como testemunho de verdade, apresenta ao xinguilador as caudas dos animais abatidos.
Na sua presença, ajoelha-se, bate palmas de reverência, e, tomada a bênção, informa-o do número de cabeças mortas.
— Parabéns, por Nâmbua e Samba, o milhafre-macho que vá para a panela (Sentido – hoje vamos nos fartar)! — Felicita o médium.
Regressando ao mato, esquarteja todas as peças e torna a voltar à casa do xinguilador. Mas com a carga. Então, cozinha as miudezas, com cuja iguaria brinda os calundus, pelo que o xinguilador se submete ao estado de possessão.
Depois de algumas divindades se mimosearem com um pouco de petisco, o Kabila ordena ao caçador que distribua a carne pelo xinguilador, companheiros e demais presentes, sendo o maior quinhão para si. Se, dentre os contemplados, existir uma mulher grávida, ao feto também toca a sua parte.
Na partilha, o caçador permanece de joelhos. Em caso de ingratidão para com a divindade, isto é, se não lhe participar o resultado da caçada, jamais tornará a abater uma só peça. É a punição.

Asé.

A história do atabaque

Em nossas giras de Umbanda, é muito comum se ter presente o ataba­que, um instrumento lendário e de origem afro. Esse instrumento dá ritmo e axé aos cultos, possibilitando uma melhor incorporação e dando maior energia aos trabalhos.


O atabaque é um instrumento Sagrado, Consagrado e Firmado por Ori­­xás e Guias e tem uma força pode­rosa, que em uma gira faz toda a di­ferença. Para aprendermos um pouco mais sobre o atabaque e seus funda­mentos trago algumas informações interessantes sobre o mesmo, relacio­nado aos cultos afro religiosos, dentre eles, Umbanda e Candomblé.

Segundo a Wikipédia, "O Atabaque de Origem Africana, hoje muito utili­zado nos cultos aos orixás, de reli­giõ­es também de origem afro, "E na verdade o caminho e a ligação en­tre o homem e seus orixás, os to­ques são o código de acesso e a chave para o mundo espiritual "( Romário Itararé há 35 anos toca atabaques e instru­mentos de percussão)

Há três tipos de atabaque: Rum, Rum­pi e o Lê. O Rum é o atabaque maior, o Rumpi seria o segundo ataba­que maior, tendo como importância responder ao atabaque Rum, e o Lê seria o terceiro atabaque onde fica o Ogã que está iniciando ou aprendiz que acompanha o Rumpi. O Rum também é usado para dobrar ou repicar o toque para que não fique um toque repetitivo. Importante saber que cada atabaque tem suas obrigações a serem feitas, pois o atabaque praticamente repre­senta um Orixá.

Existem vários tipos de toques, Angola que se toca com mão e Ketu que se toca com a varinha. Na Angola existem vários tipos de toques, onde cada toque é destinado a um Orixá, por exemplo, Congo de Ouro, Angolão que seria desti­nado a Oxossi, Ygexá que seria destinado a Oxum, etc. O mesmo acontece com Ketu, que se toca com varinha de goiabeira ou bambu, chamada aguidani.O couro também mere­ce cuidados, como passar dendê e deixar no sol para que ele, o couro, fique mais esticado e possa produzir um som melhor.

Um Ogã seria como um Tatá da Casa e na maioria das vezes seu conhecimento é quase superior a um Zelador de Santo. Para ser um Ogã não basta saber tocar, e sim, saber o fundamento da Casa, sali­entando que saber o canto na hora certa, é de gran­de importância para um Terrei­ro.

Existem também outros tipos de componentes que se usam junto com os ataba­ques, como por exemplo, o agogô, chocalho, triângulo, pandeiro, etc. Existe também o Abatá, que seria um tambor, com os dois lados com couro, que se usa muito no Rio Grande do Sul e na nação Tambor de Mina.

Os tambores começaram a apa­recer nas escavações arqueológicas do período neolítico.

O tambor mais antigo foi en­contrado em uma escavação de 6.000 anos A.C. Os primeiros tambores provavelmente consistiam em um pedaço de tronco de árvore oco. Es­tes troncos eram cobertos nas bor­das com peles de alguns répteis, e eram percutidos com as mãos, depois foram usadas peles mais resistentes e apareceram as primeiras baquetas. O tambor com duas peles veio mais tarde, assim como a variedade de tamanho.

De origem africana, o atabaque é usado em quase todos os rituais afro-brasileiros, típico do Candomblé e da Umbanda e de outros estilos relacio­nados e influenciados pela tradição africana. De uso tradicional na música ritual e religiosa são empregados para evocar os Orixás.









Por Marcos Vinicius Caraccio

A UMBANDA

Sou a fuga para alguns, a coragem para outros.
Sou o atabaque que ecoa nos terreiros, trazendo o som das selvas e das senzalas.
Sou o cântico que chama ao convívio seres de outros planos.
Sou a senzala do Preto Velho, a ocara do Bugre, a cerimônia do Pajé, a encruzilhada do Exu, o jardim da Ibejada, o nirvana do Hindu e o céu dos Orixás.
Sou o café amargo e o cachimbo do Preto Velho, o charuto do Caboclo e do Exu; o cigarro da Pomba Gira e o doce do Ibeji.
Sou gargalhada da Padilha, o requebro da Cigana, a seriedade do Tranca-Rua.
Sou o sorriso e a meiguice de Maria baiana, Cambinda e Maria do Congo a traquinada do Zequinha e a sabedoria do Sete Flechas.
Sou o fluído que se desprende das mãos do médium levando a saúde e a paz.
Sou o isolamento dos orientais onde o mantra se mistura ao perfume suave do incenso. Sou o Templo dos sinceros e o teatro dos atores.
Sou livre. Não tenho Papas. Sou determinada e forte.
Minhas forças? Elas estão no homem que sofre e que clama por piedade, por amor, por caridade.
Minhas forças estão nas entidades espirituais que me utilizam para seu crescimento.
Estão nos elementos. Na água, na terra, no fogo e no ar; na pemba, na tuia, na mandala do ponto riscado.
Estão finalmente na tua crença, na tua Fé, que é o elemento mais importante na minha alquimia.
Minhas forças estão em ti, no teu interior, lá no fundo na última partícula da tua mente, onde te ligas ao Criador.
Quem sou? Sou a humildade, mas cresço quando combatida.
Sou a prece, a magia, o ensinamento milenar, sou cultura.
Sou o mistério, o segredo, sou o amor e a esperança. Sou a cura. Sou de ti. Sou de Deus. Sou a Umbanda!
Só isso. Sou a Umbanda.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Cumeeira e Axé - Entendendo o templo de Umbanda e Candomblé.

Existem várias pessoas que frequentam as casas de Umbanda e Candomblé, mas, muito poucas são as que realmente entendem seu significado correto. Algumas chegam a pensar que somente são sagradas quando estão em funcionamento, oferecendo uma festa ou mesmo algum tipo de trabalho. Ledo engano!
Essas casas são na verdade TEMPLOS e como tal, merecem todo nosso respeito e dedicação. Mas, o que é realmente um templo?
A palavra Templo, deriva do latim, Templum, que significa local sagrado. Geralmente é uma obra arquitetônica, e, se dedica ao serviço religioso, não importando o credo ali praticado.
Porém, o termo Templo, pode ser usado figurativamente dando sentido a uma reflexão do mundo divino. Ou seja: a habitação de Deus na terra, ou em se tratando dessas religiões, a habitação de Deus e de seus Ministros e Mensageiros.
Os verdadeiros Templos, teem que obrigatoriamente envolverem um simbolismo cósmico, e toda a energia que habita o cosmo. Ao nos depararmos com seus objetos, deparamo-nos acima de tudo com simbologias sagradas que perduram através dos tempos. Os castiçais,por exemplo, representam os planetas, por isso em tempos atrás era comum que os mesmos possuíssem sete braços, ou fossem um total de sete. Atualmente mesmo possuindo quantidade menores de braços, abrigam as velas, que representam a luz de Deus para nossos caminhos. A chama que alimenta nossa fé em tudo aquilo que praticamos e pregamos.
O altar da Umbanda ou Peji como chamamos, representa a ação de graças por tudo aquilo que realizamos o conseguimos durante nossa vida nesse planeta. Representa ele, a união de Deus com os homens, devemos assim nos aproximarmos dele, com nossos corpos, mente e coração limpos de toda e qualquer energia negativa.
Existe ainda um local onde se coloca o assentamento principal da casa, local esse chamado no Candomblé de Axé, constitui-se basicamente de um buraco onde são plantados os fundamentos daquela casa, e,esse buraco fica situado bem no meio da sala principal. Seja na Umbanda ou no Candomblé, esse “buraco” juntamente com o assentamento ali depositado, representa o centro do mundo, e dedica-se a segurança da casa bem como de todos aqueles que ali frequentam.
Segundo as tradições antigas, é nesse assentamento que se comunicam as forças terrestres e as celestiais. Desde tempos imemoráveis são dessa forma construídos os Templos e nele praticados os ritos religiosos de acordo com o seguimento de cada sacerdote.
A cumeeira, representa o sustentáculo da casa, assim sendo, deve-se muito respeito à mesma, pois independente do Orixá daquela casa, teremos uma cumeeira e nela são depositados as mais variadas oferendas, pois, se por um lado o assentamento no chão representa o centro do mundo, a cumeeira representa o céu, e nela é assentado um Orixá para que o mesmo sustente aquela casa, não deixando que sucumba perante as forças inimigas.
Como podemos ver, tudo dentro de um templo religioso, seja Umbanda ou Candomblé, refere-se à união do homem ao seu Criador, buscando sempre uma forma de nos sustentar durante as provações às quais somos submetidos nesse mundo.
Temos, pois, que revermos nossos conceitos com esses Templos e, entendermos que ele funciona como nossa “igreja”. A palavra igreja deriva do antigo grego, que por sua vez, foi tirada do hebraico Yahveh, e esse termo era usado para designar uma assembléia do povo do deserto.
Assim podemos traduzir igreja, como assembléia ou reunião.
É de suma importância que respeitemos nossos templos, que zelemos por ele, que contribuamos para sua manutenção, pois assim estaremos servindo aos nossos Orixás e Protetores de todas as formas.
 
Asé.

POR QUE DARMOS OFERENDAS AOS ORIXÁS?

Muitas pessoas se perguntam o por que de darmos oferendas aos Orixás e também por que temos que pagar o axé ou chão do zelador para que o mesmo possa nos preparar e entregar as oferendas aos Orixás quando são necessárias para resolver qualquer assunto em nossas vidas.

Pois bem, as oferendas o próprio nome já diz, são nada mais que presentes, que se constituem em comidas e sacrifícios prediletos de cada Santo do panteão afro. Para cada Orixá, existem comidas diferentes e as mesmas, são verdadeiras iguarias na culinária africana, o mesmo acontece com o sacrifício, muito embora sejam ofertados galos, galinhas, pombos, cabritos e outros para os Orixás, todos possuem formas diferentes de se sacrificar seus animais prediletos.

Em tempos remotos, parte da colheita era oferecida aos deuses como forma de agradecer pela fartura na mesma, e em tempos anteriores ao cristianismo, eram oferecidos holocaustos a Deus e mesmo parte da colheita era a ele ofertada como forma de agradecimento e pedido de prosperidade. A essa doação, ou oferta, dava-se o nome de dízimo.

Com os Orixás, o mesmo acontece, oferecemos presentes como comidas secas, e em alguns casos o holocausto como forma de agradecermos por sua ajuda em determinado assunto, ou para pedir que interfira na solução de problemas variados de nossas vidas.

Nada se faz dentro do Axé Orixá, sem que a eles, ofertemos esses “presentes”, afinal são deuses que governam a natureza e assim sendo, nada mais justo que ofertarmos as obrigações que nos solicitam.

Quanto ao pagamento do axé do zelador, também é algo muito justo por vários motivos: um templo não se mantém sem dinheiro, pois temos água, luz e outras coisas a serem pagas mensalmente e ninguém com certeza absoluta vai se comprometer a arcar com as mesmas, com a construção de nossa casa, que começará em breve, assim espero, terão essa responsabilidade.

Em segundo plano, porém não menos importante, está o trabalho realizado por aquele zelador. Nas igrejas, por mais que alguns teimem em dizer que não, mas se cobram pelas coisas sim, pois tem o dízimo que obrigatoriamente é pago pelos fiéis além das ofertas que são entregues todos os dias de culto. Então por que no Candomblé e na Umbanda, os sacerdotes teem a obrigação de realizar as coisas sem cobrança?

Dentro de nosso mundo, é comum, desde tempos remotos, que os sacerdotes recebessem pagamentos em formas variadas por suas intervenções junto aos deuses ou junto a Deus, na solução de problemas variados.

Quem nunca ouviu falar das indulgências vendidas por Roma para seus fiéis? E mesmo em tempos atuais, um batizado, casamento, ou outra cerimônia qualquer que seja, é cobrado algum valor sim, assim sendo dentro dos templos afro religiosos, temos total direito em cobrar pelos serviços prestados.

O que não podemos, seja qual for a nossa ramificação religiosa, é; como sacerdotes, explorar a fé das pessoas, extorquindo-as de todas as formas possíveis. E esse fato vemos constantemente divulgado em veículos de informação, quando os sacerdotes cristãos prometem até mesmo, terrenos no céu para quem se dedicar a pagar mais para a igreja.

A partir do momento que cobramos, temos também a obrigação moral de zelarmos verdadeiramente por aquela pessoa que nos pagou, afinal foi seu sacrifício em favor dos Orixás, sua fé, que o levou a nos procurar.

Não podemos ser hipócritas e cobrarmos sem nos dedicarmos de verdade nos problemas daqueles que buscam em nós uma solução para suas vidas. Não temos o direito de pegar o dinheiro de uma pessoa e não realizarmos suas obrigações, e se por ventura seus pedidos não forem atendidos imediatamente, temos sim, a obrigação moral de revermos a situação a fim de que encontremos a forma para resolvermos a sua vida.

Assim sendo, é completamente normal a cobrança do axé ou chão do zelador, mas temos que ter a responsabilidade de acompanharmos de perto os problemas daquela pessoa que solicitou nossa interferência.
 
 
Asé.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Pade de Exu (Oriki).

Dentro dos rituais sagrados de Exú, não pode faltar de forma alguma seu padê, espécie de farofa crua, na qual é adicionada a farinha de mandioca, e vários elementos, dependendo da necessidade de cada pessoa.



Os mais utilizados de forma geral, são: o padê de água, de dendê, e o de mel. Sendo que esses são muito utilizados quando se realiza algum sacrifício de aves ou de quatro pés para essa divindade. O padê sem o ritual de sacrifício tem por finalidade, se presentear a Exú para que ele nos ajude em determinados assuntos nos quais necessitamos. Trata-se de uma comida preferida por todos os exús e sua aplicabilidade remonta das senzalas que existiam no Brasil.


É público que na África não existia esse tipo de alimento, farinha de mandioca, uma vez que esse foi criado pelos índios brasileiros, mas, os antigos sacerdotes, que eram escravos, introduziram esse presente ao culto de exú e desde essa época, é comum dar-se de presente para exú seu padê.


O padê de dendê serve para se esquentar os caminhos e é muito utilizado para a abertura de caminhos para emprego, para o progresso de uma empresa ou para várias outras utilidades. O padê de azeite de oliva costuma ser usado para se conseguir um equilíbrio em determinado setor da vida de uma pessoa, o de mel, serve para se adoçar uma pessoa, para fazer com que exú nos traga, por exemplo, o livramento de uma perseguição, para que uma pessoa que é nosso inimigo se transforme em nosso amigo, para ajudar em questões amorosas entre tantas outras utilidades.


Em caso de abertura de caminhos para uma empresa, para se atrair clientes para um comércio, para que se arrume emprego, é aconselhável que se coloque sete moedas correntes. Para as demais utilidades pode-se colocar de uma a sete moedas correntes.


Ainda existem outros tipos de padês chamados negativos, que servem para livrar uma pessoa da praga, por exemplo, da feitiçaria, do olho grande etc.


Porém, sempre é bom lembrar que as divindades do Candomblé somente atendem ao chamado de pessoas preparadas e com tempo de santo suficiente para entregarem as oferendas, e se alguma pessoa sem esses requisitos, tentar realizar alguma cerimônia, os efeitos podem ser catastróficos na vida do consulente.


E esse fato ocorre muito frequente uma vez que a ganância, a ânsia de dinheiro faz com que pessoas sem preparo algum, decidam interferir solicitando ajuda das entidades para pessoas em seu dia a dia. Exú como sendo um Orixá de grande poder, não tem o hábito de perdoar, e se por ventura, algo for feito de forma irregular, teremos sérias complicações na vida daquele vivente. Não sei porque lembrei de alguem conhecido por vc´s!!!


Pode-se servir o padê para exú independente de lua ou dia de semana, não sendo aconselhável somente nas sextas feiras, pois esse é um dia consagrado a Oxalá e assim sendo, como existe uma kizila entre Exú e Oxalá, não se recomenda que seja feita qualquer oferenda para essa entidade, deixando o dia de sexta feira somente dedicado a se presentear Oxalá e assim mesmo sem matança, somente com comida seca e reza.


Como qualquer Orixá do panteão africano, exú também tem seu Oriki, ou seja, um conjunto de palavras litúrgicas que são utilizadas para invocá-lo. A esse conjunto de palavras dá-se o nome também de Reza.


Oríkì fún ÈsùÈsù òta Òrìsà.
Osétùrá ni oruko bàbá mò ó.
Alágogo Ìjà ni orúko ìyá npè é,
Èsù Òdàrà, omokùnrin Ìdólófin,
O lé sónsó sí orí esè elésè
Kò je, kò jé kí eni nje gbé mì,
A kìì lówó láì mú ti Èsù kúrò,
A kìì lóyò láì mú ti Èsù kúrò,
Asòntún se òsì láì ní ítijú,
Èsù àpáta sómo olómo lénu,
O fi okúta dípò iyò.
Lóògemo òrun, a nla kálù,
Pàápa-wàrá, a túká máse sà,
Èsù máse mí, omo elòmíràn ni o se.

Oríkì para Exú (tradução)Èsù, o amigo dos orixás.
Osétùrá é o nome pelo qual você é chamado por seu pai.
Alágogo Ìjà é o nome pelo qual você é chamado por sua mãe.
Èsù Òdàrà, o homem forte de ìdólófin,
Èsù, que senta no pé dos outros.
Que não come e não permite a quem está comendo que engula o alimento.
Quem tem dinheiro, reserva para Èsù a sua parte,
Quem tem felicidade, reserva para a Èsù sua parte.
Èsù, que joga nos dois times sem constrangimento.
Èsù, que faz uma pessoa falar coisas que não deseja.
Èsù, que usa pedra em vez de sal.
Èsù, o indulgente filho de Deus, cuja grandeza se manifesta em toda parte.
Èsù, apressado, inesperado, que quebra em fragmentos que não
se poderá juntar novamente,
Èsù, não me manipule, manipule outra pessoa.


Oríkì fún ÈsùÈsù pèlé o, okanamaho, ayanrabata awo he oja oyinsese,
seguri alabaja, olofin apekayu, amonise gun mapo

Nko o
Èsù, ba nse ki imo
Èsù, keru o ba onimimi
Èsù, fun mi ofo ase mo pele Òrìsà
Èsù, alayiki a juba
Àse

Oríkì para ExúElogiado é o espírito do mensageiro divino
Mensageiro Divino, eu chamo a você por seus nomes de elogio
Mensageiro Divino guia minha cabeça para minha rota com destino
Mensageiro Divino, eu honro a sabedoria infinita
Mensageiro Divino, ache lugar onde submergir meus sofrimentos
Mensageiro Divino, dê força para minhas palavras de forma que evoque as forças da natureza fortemente
Mensageiro Divino, nós pagamos nossos cumprimentos dançando em círculo
Axé


As rezas de exú servem para acordá-lo, para invocá-lo para que se digne e vir receber a oferenda que lhe trazemos como para que interaja em nossa vida ou na vida de uma pessoa que necessita dessa intervenção.


É imprescindível que ao entregarmos o padê para exú, estejamos de corpo limpo, sem sexo, bebida ou qualquer outra substância nociva ao lido com os fundamentos do Axé Orixá. Temos também que recorrermos ao jogo para ver qual o tipo de problema existe na vida daquela pessoa e qual Exú se digna a olhar por ela e ajudar.


Nunca, em hipótese alguma, devemos invocar exú sem uma necessidade real, pois o mesmo é dotado de uma força que ser humano algum é capaz de controlar.


Que exú abra seus caminhos e lhe traga muita paz e tranquilidade

Entrevista Com Mam'etu Mabeji - Bate-Folha - RJ

No início de 1900 o senhor Bernardino Manoel da Paixão (cuja dijina era Ampumandezu), se iniciou com um Muxicongo chamado Manoel de Nkosi. Daí nasceu o terreiro Inzo Manzo Bandukenké (Bate-Folha), no bairro da Mata-Escura, na Bahia. O Sr. Bernardino iniciou cinco barcos: quatro na Mata-Escura e um na casa da filha. Nesses cinco barcos ele só fez dois filhos de santo homens: João Correia de Mello (João Lessengue) que foi o primeiro, e Bandanguame, do segundo barco.
O primeiro filho de Bernardino (Lessengue), veio para o Rio de Janeiro em 1938 e tornou-se uma lenda na nação Congo-Angola. Na sua chegada ao Rio, foi morar na Rua Navarro, no Catumbi, mudando-se depois para Praça Mauá, e por último para Rua do Resende onde morou até seu falecimento.
No ano de 1941, João Lessengue compra o terreno na Rua Edgard Barbosa, n 26, em Anchieta, onde funda sua casa Inzo Kupápá Unsaba, mais conhecido como Bate-Folha, RJ.
Ele como um homem visionário, constituiu sua casa com uma arquitetura moderna, mantida até hoje e além de marco do culto Angola, ficou também conhecido pela elegância de suas vestes (os quais os Ogans da casa se vestiam da mesma forma), e pelas recepções calorosas ao "Povo do Santo".
João Lessengue vem a falecer em 1970, deixando saudade a quem o conheceu, e um imenso orgulho em seus filhos pelo conhecimento da nação deixado. Em 1972 assume o terreiro a Senhora Floripes Correia da Silva Gomes - Mametu Mabeji, a nossa entrevistada.

1-Quando e como se deu sua iniciação?
R: Eu morava em Salvador e pertencia a uma família de pessoas do santo. Meu tio, era Ogan do Calabetão, e uma tia minha (esposa desse tio), era filha de João da Goméia e se chamava Leonor. Com isso, eu ia a muitos candomblés. Eu freqüentava o candomblé da Goméia, seu Mundinho da Formiga, dona Idalice de Sango (Mãe de Egbom Riso), Manuel Falefale, Chica do Bom Joá, Manuel Menezes, entre outros. Eu ia para ver, e quando chegava em casa ficava imitando os Orisás. Era um verdadeiro sire (risos).
Isso eu tinha uns oito anos de idade. Com dez, Seu (João Lessengue) foi a Salvador, e como ele tinha uma situação financeira melhor, pediu a minha mãe que deixasse eu ir pro Rio com ele.
Vim para o Rio de Janeiro e dois anos mais tarde minha família veio também, mas eu já estava iniciada quando o pessoal chegou de Salvador. Eu me iniciei em 20 de Abril de 1947. Uma irmã minha que chegou de Salvador também foi iniciada em 1949.

2- Como era o convívio com seu João Lessengue?
R: Era ótimo. Ele era uma pessoa que não tenho adjetivos para descrever. Era meu tio carnal, compadre, pai de criação e Tata Nkisi, ou seja, tudo. Ele era uma pessoa rígida, que gostava das coisas certas, nos devidos lugares. Ele era pontual, quando marcava para começar o Candomblé às 16:00 (horário em que tradicionalmente as festas eram marcadas), começava na hora certa.
Mas, era uma pessoa amiga e animada, era dedicado aos filhos e estava sempre pronto a ajudar quem precisasse. Definindo-o bem, era culto, elegante amigo, porém extremamente rígido com as coisas do santo. Era o clássico "escreveu não leu, pau comeu" (risos). No termo baiano seria um "carrancista". Inclusive, acredito eu, que foi ele quem começou com esses jantares pós Candomblé, coisa que não era tradição nem aqui no Rio e nem em Salvador.

3- Quais as pessoas que freqüentavam o Bate-Folha na época de seu Lessengue? Quais ainda freqüentam?
R: Bom, a casa tinha duas grandes festas: a de Lembá e a de Nkosi, que eram os Nkisi dele.
Tinham outras festas, mas, essas duas eram as que mais enchiam a casa. Muitas pessoas já falecidas, que foram ícones do Candomblé freqüentavam a casa. Ds que eu me lembro vinham Bida de Yemonja, Damiana de Sango, Joana Obassi, Joana da Cruz, Dila de Omolu, Senhorazinha, Djalma de Lalu, Tata Fomutinho, Olegário (O de Wale), Adalgiza do Gantois, América de Omolu, Marina de Osonyin, Obaladê (do Asé Osumare), vinha muita gente.
Algumas pessoas que vinham na época de meu pai ainda vem a casa, que eu me lembre, os que vem mais freqüentes são: Nino de Ogun, Ogan Bangbala, Ogan Evandro (sobrinho de Caboclo), Guiomar de Ogun, Iné de Osumare, Nair de Osala, Ekeji Deja, Cotinha, Orlando de Sango (Gamutinho), entre outros.
Desculpe se esquecer alguém, mais enchia muito.

4- Como foi receber a notícia de que sucederia seu zelador a frente do Inzo?
R: Foi difícil, pois eu não queria. Por mim seria filha de santo o resto de minha vida. Meu pai faleceu em 1970, e eu assumi em 1972, ou seja, estou a frente da casa à 34 anos.
A dificuldade maior foi estruturar, pois abrir uma casa é uma coisa, pois esta começando um ciclo, outra coisa é você continuar este ciclo. Assumir uma estrutura já pronta, com outros filhos na casa é muito diferente.

5- Como foi a receptividade por partes dos filhos da casa?
R: O pessoal acatou bem, pois além de ser sobrinha carnal dele, era uma das filhas mais velhas, do segundo barco mais especificamente. Ele quando vivo sempre dizia "quando eu morrer, você que vai assumir", mas nunca tive essa pretensão de assumir a posição de herdeira na época. Quando ele faleceu, eu já estava com 23 anos de iniciada.

6- De lá para cá, quais as melhorias feitas no Inzo?
R: Nunca mexemos na estrutura interna do barracão, do piso ao telhado, continua tudo como sempre foi. Meu pai era um homem de visão, a estrutura sempre foi moderna, aos moldes do que é nos dias atuais. Os quartos do Nkisi nós tivemos que mexer, pois não havia mais espaço físico para comportar os Nkises das pessoas que foram sendo iniciadas e os que já existiam. Estruturamos algumas outras coisas, fazemos manutenção na fachada do Inzo regularmente, entre outras coisas.

7- Qual a relação do Bate-Folha do Rio com o de Salvador?
R: Meu pai, Lessengue, foi muzenza do primeiro barco de meu avô Bernardino, foi o primeiro filho da casa e era do mesmo Nkisi que ele.
Quando seu Bernardino faleceu, meu pai foi escolhido para assumir a casa, o Manzo Bandukenké, mas ele já havia fundado sua casa aqui no Rio de Janeiro denominada Kupápá Unsaba (que significa Bate-Folha na integra) e não pôde assumir a responsabilidade, que foi passada a meu tio Bandanguamê, que era de Kavungo.
Inclusive esta história da casa é até engraçada, pois o terreiro de Salvador é Bate-Folha, porque o nome da fazenda que meu avô Bernardino comprou para fixar a roça tinha esse nome e já aqui meu pai quis colocar um nome que desse referência a casa onde foi iniciado, e ficou Bate-Folha também.
Meu pai continuou mantendo vínculo com o Inzo até seu falecimento, vínculo esse que mantenho até hoje com o atual herdeiro Tata Mulundurê e com Guanguacêcê. Inclusive estive lá em outubro passado para cerimônia de tombamento da casa. O pessoal de Salvador também vinha muito aqui, com exceção de meu avô Bernardino, que faleceu pouco após a inauguração da casa.

8- Quem é a mãe Mabeji fora do Bate-Folha?
R: Eu sou uma pessoa pra frente, que sempre se dedicou a família em primeiro lugar. Sou amiga de todas as pessoas, e não há diferença de tratamento em minha casa. Tive em meu falecido esposo, José Milagres (Tata Ngunzo), meu braço direito e grande companheiro, que dedicou a vida dele à família e aos Nkisi como poucos.
Ele foi que me deu forças para tocar a casa, desde sua estrutura até a parte ritualística. Tenho orgulho de saber que hoje estou à frente de uma das mais tradicionais casa do Brasil, e muito disso devo a ele.

9- Qual a influência do Bate-Folha no culto Angola-Congo do Rio de Janeiro?
R: Na verdade, nós não somos Angola, somos Congo. Seu Barnardino que foi quem fundou o Bate-Folha em Salvador, era filho de um congolês chamado Manuel de Nkosi, e após seu falecimento tirou mão com dona Maria Neném no Tumba Nsi, pois não havia outras casas de culto Congo em Salvador.
Como o culto Angola possui muitas diretrizes do Congo, talvez ele tenha escolhido o Tumba Nsi por este motivo.
O Bate_Folha foi a primeira casa de culto Angola-Congo no Rio de Janeiro, talvez por isso, possa ter influenciado na maioria das coisas. Desde festas, até o que se faz ritualisticamente, conhecido por poucos. Posso citar como exemplo a palavra Inzo, que significa casa, ou o termo Nkisi. A Kukuana, que também é da tradição congo, entre tantos outros aspectos de influência trazidos pelo Bate-Folha.

10- Qual a relação dos Nkisi do culto Angola-Congo, com os Orisás do Ketu?
R: Eu acredito que somente a nomenclatura e seus fundamentos sejam diferentes, porém acho que a essência é a mesma. Posso citar o exemplo de Omolu, Kavungo para nós, que desde que eu conheço Candomblé sempre vestiu aze de palha da costa. Isso é uma característica pessoal da divindade, seja em Angola, no Ketu ou em Jêje.

11- Sabemos que tradicionalmente, os Candomblés de Angola do Rio não fazem sua sala totalmente com cânticos em Bantu. Como isso funciona no Bate-Folha?
R: Aqui em casa, a Kizomba (sire) sempre foi realizada da mesma forma desde que meu pai fundou o terreiro, em Bantu. Não houve a necessidade de "aportuguesar" as cantigas, pois meu pai Lessengue sempre procurou se aprofundar no culto, e talvez por isso aqui não ouve essa ketualização que ocorre em algumas casas.

12- Quais as casa de Candomblé a senhora costuma frequentar?
R: Eu não sou muito de ir a Candomblé, vou esporadicamente. Quando vou a alguma festa costuma ser na Casa de Nino de Ogun, Luis de Osoo si, no Walter de Nkosi, no Opo afonjá, Valdomiro Baiano, Bira de Sango, Beata de Yemonja, Meninazinha de Osun e na casa do Elias de Yansan. Quase não tenho tempo de ir a Candomblés, mas quando vou, é em um desses.

13- O que é mais gratificante no Candomblé? E o doloroso?
R: Olha, o Candomblé é uma religião de surpresas. O Mais gratificante na minha opinião, é a relação com os Nkisi. Você faz suas oferendas, obrigações e é bem sucedido. É bom saber que posso contar com eles para ajudar as pessoas.
Gratificante também, é o reconhecimento, por parte dos filhos, mostrado através de sua dedicação a casa, e pela satisfação nos êxitos obtidos ou por algo pendente resolvido. Agora o mais doloroso é a falta de gratidão por partes de algumas pessoas, aliás, gratidão elas devem aos Nkisi, falta de consideração colocando melhor. Você às vezes perde noites de sono, faz de tudo por uma pessoa, dedica seu tempo, e a pessoa não dá valor a isso.
Simplesmente viram as costas para casa de santo, seus membros e seus Nkisi, e só volta quando esta numa pior. Isso é o pior que pode acontecer.

14- Como á senhora vê hoje o futuro da religião?
R: Eu vejo o culto Angola e o Jêje em menor escala, tem pouca repercussão devido a ketualização que caminha através das décadas. Acho que se continuar assim, a tendência é que somente o culto Ketu sobreviva.

15- Existe alguém sendo preparado para assumir o Inzo Kupápá Unsaba?
R: Hoje, existem pessoas preparadas com conhecimento necessário, porém ninguém específico. O Nkisi é uma caixinha de surpresas e pode escolher qualquer um da casa. Mas, seja quem for, terá o suporte necessário e aprenderá com essas pessoas os fundamentos ritualísticos necessários para boa condução da casa.

16- Uma mensagem para o povo da religião?
R: Meu desejo é que o povo do Candomblé seja mais unido, pois se a religião esta assim é por culpa da desunião. A união faz a força.
Acho que as pessoas deveriam aprender, estudar e observar mais, e criticar menos, pois às vezes podem estar falando o que não sabem.
Esta é a minha mensagem.


Fonte: http://www.ritosdeangola.com.br

Sejam Bem Vindos.

Que nosso papai Nzambi os abençõe e protejam!

Aqui vamos falar somente do que importa, nossa vida espiritual.
Desde já, todos estão convidados a postarem seus comentários, mas lembrem-se, respeitando o credo e a posição de cada um!!!

Que a força de Nkossí estejam com todos!
Asé